André Luis Canedo Lauria*
Mercado é um termo que designa um conjunto de compradores e vendedores interagindo para trocar dinheiro por bens e serviços. Sua formação e desenvolvimento pressupõe um certo grau de especialização e divisão do trabalho, ou seja, uma distribuição diferenciada de tarefas entre indivíduos, organizações e mesmo entre nações.
O mecanismo de mercado é formado basicamente pela oferta de bens e serviços e por sua demanda. Da interação entre oferta e demanda surge um sistema de preços, orientando a economia no sentido de aumento ou diminuição da produção.
Um preço expressa uma relação de troca, notadamente, a proporção de dinheiro que se entrega para obter determinada quantidade de produto ou serviço. A cada nível de oferta versus demanda observado no mercado, temos um preço diferente, equilibrando as quantidades demandadas e ofertadas.
O Mercado de Trabalho é aquele onde temos o encontro entre a oferta e a demanda por trabalho, definido como toda atividade humana com objetivo de satisfazer uma necessidade. Em troca de alguma forma de trabalho, seja manual ou intelectual, aqueles que o ofertam recebem uma remuneração daqueles que o demandam. Assim, por um lado temos a quantidade de vagas de emprego, representando a demanda por trabalho, enquanto pelo outro lado, a oferta é dada pelo número de trabalhadores disponíveis.
O grupo dos ofertantes e dos demandantes no mercado de trabalho estão sujeitos à atividade econômica do país, que depende de todos os outros mercados, inclusive o monetário, com a taxa de juros como o preço do dinheiro. O comportamento e volume de consumo e de investimentos relacionam-se com a expansão ou retração da produção (produto) que por sua vez, necessita de uma quantidade maior ou menor de trabalho, tendo impacto no nível de emprego.
Esta forte dinâmica que ocorre em períodos diferentes faz com que seja necessário tempo para o ajuste do mercado de trabalho, notadamente após um período de crise (retração econômica) quando a recuperação do nível de emprego vai ser o último indicador a reagir ao melhor ambiente na economia. Além disso, o nível de equilíbrio do mercado de trabalho não significa que a economia estará obrigatoriamente em pleno emprego, admitindo então alguma quantidade de desemprego involuntário.
Este desemprego é conjuntural, devido às condições econômicas do momento, com um nível de demanda incapaz de absorver a capacidade produtiva de parte daqueles que ofertam seu trabalho no mercado.
Adicionalmente a este desemprego conjuntural, existe o chamado desemprego estrutural, causado por mudanças estruturais na economia, notadamente relacionado com a alteração da base tecnológica utilizada nos processos de produção, mudanças em padrões e comportamentos de consumo, além de transformações em modelos de negócios ou reorganizações nas cadeias produtivas em geral (inclusive naquelas de alcance global).
Os movimentos de transformação digital, aumento de automação e incorporação de novas tecnologias nos últimos anos, visando garantir ou aumentar a competitividade das organizações e aproveitar novas oportunidades de negócios, têm pressionado na direção desse desemprego tecnológico.
O contexto atual é acelerado, incerto e exige rápida adaptação. O impacto da era digital altera as restrições relacionadas à estratégia dos negócios. Competição e cooperação alternam-se e combinam-se de uma forma muito mais dinâmica, fluida, por todo o ambiente de negócios, não apenas em um tipo de indústria ou setor específico. Tecnologias digitais aumentam a viabilidade de modelos de negócios baseados em plataformas, trazendo novas formas de criação e retenção de valor.
Além disso, o Brasil vivencia desde meados de 2014 uma situação de grave crise econômica, considerada a pior de sua história em termos de retração de renda, com a maior e mais prolongada queda do PIB (Produto Interno Bruto) junto ao mais veloz crescimento do desemprego. Esta situação perdura por conta da pandemia do Covid-19, que ainda pressiona a questão fiscal, ao exigir gastos públicos crescentes para seu enfrentamento.
Neste sentido, a área de RH depara-se com uma oportunidade real para atuar de forma efetivamente estratégica, buscando construir alternativas, no âmbito das Relações Trabalhistas, que possam contribuir com a capacidade competitiva de sua organização. Este posicionamento exige uma ação combinada com jurídico, financeiro e entes externos, principalmente junto às entidades sindicais.
Através da aplicação da primazia do negociado sobre o legislado, consequência direta da lei nº 13.467/17 (Reforma Trabalhista de 2017) e das medidas trabalhistas publicadas sistematicamente para enfrentamento da pandemia, como por exemplo, as recentes MP 1045 e 1046, em 28 abril de 2021, espera-se a busca de uma nova relação trabalhista, mais adequada aos desafios atuais e futuros.
No momento, garantir alguma capacidade às empresas para manutenção de postos de trabalho e consequentemente, da renda dos trabalhadores. No futuro, capacitar adequadamente a força de trabalho, para minimizar o efeito do desemprego tecnológico, além de buscar um modelo adequado aos desafios competitivos que a mudança no ambiente de negócios mais digitalizado e integrado impõe.
Bibliografia:
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OCIO ZURRÓN, Domingo. O emprego na Teoria Econômica. Relatório Nº 11/1995, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2951/Rel11-95completo.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em: 24 abr. 2021.
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ROSSI, Pedro e MELLO, Guilherme. Choque recessivo e a maior crise da história: A economia brasileira em marcha à ré. Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica – CECON – IE/UNICAMP. Nota do Cecon, n.1, Abril de 2017. Disponível em: https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/NotaCecon1_Choque_recessivo_2.pdf
Acesso em: 24 abr. 2021.
SANDRONI, Paulo. Novo Dicionário de Economia. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 1994.
*Artigo escrito por André Lauria
André Lauria é graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, possui MBA em Gerência de Projetos e pós-graduação em Negociação pela Fundação Getúlio Vargas. É Mestre em Administração de Empresas (MSc.) pela Pontifícia Universidade Católica-RJ e certificado em Data Science para Negócios pela Instituição Alumni COPPEAD. Membro do Conselho Consultivo do FnP Finanças, Mentor e participante da Comissão Organizadora do Meeting de Negociação; Membro do grupo RH Legal da ABRH-RJ.